sexta-feira, 25 de março de 2011

GT's na REA/ABANNE de pesquisadores do PINEB

  Olá,

Apresento-lhes as propostas dos GT 13 -- A etnologia indígena da Amazônia e do Nordeste Brasileiros" e 25 -- Etnologia da Amazônia meridional: investigando as populações indígenas nas fronteiras entre a floresta e o cerrado do Brasil Central, solicitando que nos ajudem a divulgá-las.

AbraçoS, até mais, Rosário

REA/ABANNE - GT 13: A etnologia indígena da Amazônia e do Nordeste Brasileiro

Ugo Maia Andrade (UFS)
ugomaia@ufs.br
Maria Rosário Gonçalves de Carvalho (UFBA) mrgdecarvalho12@gmail.com

Percebidos como mundos paralelos que convergem apenas nos índices sociais e econômicos, a Amazônia e o Nordeste brasileiro facilmente são tomados como realidades etnográficas imiscíveis, uma vez que, grosso modo, é relativa a diferença de grau de distinção cultural das sociedades indígenas aí presentes. Temas como contato, relações interétnicas, políticas de identidade, sociogênese, movimentos de reetnização e gerenciamento de relações com agências estatais têm dominado, por um lado, os estudos de etnologia indígena do Nordeste brasileiro no último quartel; por outro lado, cosmologia, ritual, variabilidade de morfologias sociais, dinâmicas de transformação, sistemas de parentesco e gerenciamento de relações com agências extra-humanas continuam a figurar como assuntos clássicos da etnologia indígena da Amazônia. Trata-se de duas tendências diversas e metodologicamente divergentes: a primeira, inspirada por um horizonte “externalista”, põe ênfase em processos coloniais de territorialização, categorização de grupos por atos administrativos e engendramento de unidades sociais face ao Estado-nação; a segunda, “internalista”, está voltada para as transformações que viabilizam a síntese de termos antitéticos a fim de garantir contigüidades estruturais por meio de diferentes gerenciamentos de alteridades. Não obstante tais tendências, cabe perguntar pelas membranas e intersecções entre as etnologias produzidas sobre ambas as regiões, seja por meio de estudos de comunidades emergentes na Amazônia, do xamanismo atinente ao complexo do toré no Nordeste, etc. Diante de tais considerações, o presente GT propõe reunir, aproximar e estimular o diálogo entre pesquisas sobre temas diversos que transpassem a etnologia indígena sobre as regiões em questão, procurando proporcionar um espaço de reflexão sobre sistemas ameríndios não comprometido com dicotomias do tipo “externalismo X internalismo” e em busca de confluências etnográficas – teóricas e metodológicas – sobre tais sistemas, na Amazônia e no Nordeste.


GT 25 - "Etnologia da Amazônia meridional: investigando as populações indígenas nas fronteiras entre a floresta e o cerrado do Brasil Central"

Felipe Vander Velden (UFSCar)
Edwin Reesink (UFPE)
Estevão Fernandes (UFRO)

"Este grupo de trabalho pretende reunir pesquisadores trabalhando com populações indígenas na faixa meridional da Amazônia, que se estende do vale do Araguaia, a leste, ao Acre, no oeste. Esta região configura-se como uma `zona de transição' entre as formações sócio-cosmológicas tipicamente amazônicas (Tupi) e aquelas características do Brasil Central (Macro-Jê). Este território apresenta grande diversidade, englobando povos falantes de línguas de diversas famílias dos troncos Tupi e Macro-Jê, mas também de outras famílias lingüísticas menores e de línguas isoladas. Conhecemos ainda muito pouco destas sociedades, e menos ainda de suas trajetórias históricas e das relações que entreteceram entre elas ao longo do tempo. Trabalhos em lingüística e arqueologia vêm destacando cada vez mais a importância desta região como zona de origem de vários grupamentos lingüísticos, tal como os Tupi e os Macro-Jê. Estudos em etnohistória sugerem complexas relações entre povos na área do Tapajós-Madeira, e o mesmo se diga das relações entre formações sociais e cosmológicas da floresta amazônica e do cerrado centro-brasileiro. Esperamos oferecer um espaço para rediscutir este complexo território indígena, agrupando trabalhos que se debruçam sobre as populações indígenas na região, buscando preencher lacunas no conhecimento da área, em especial pelo compartilhamento de dados de pesquisa. Esperamos dar início a um esforço de adensamento dos mapas de inter-relações entre as sociedades que habitam a região, melhorando nosso entendimento dos cenários multi-étnicos nesta fronteira entre a Amazônia e o Brasil Central. Além disso, pretendemos abrir espaço para a rediscussão dos modelos etnológicas que opõem populações de diferentes famílias lingüísticas, a partir de certa noção da relação língua/cultura. Um dos modos de revisar estes modelos poderá ser a investigação desta área que abriga populações de diversas filiações lingüísticas, e que estabelecem variadas relações entre elas."



Site oficial do evento: http://www.ufrr.br/rea2011/

quinta-feira, 10 de março de 2011

Comunidade Pataxó Hã-Hã-Hãe encontra cemitério antigo em área retomada

Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia confirmaram, no dia 1º de março, que se trata de artefatos indígenas

Por Cimi Regional Leste - Equipe Itabuna

No final do mês de janeiro, um grupo de indígenas Pataxó Hã-Hã-Hãe encontrou uma urna funerária e várias cerâmicas antigas na área retomada que fica na região de Água Vermelha, município de Pau Brasil, sul da Bahia. Os indígenas aravam a terra para plantar uma roça de feijão e milho, quando começaram a aparecer vários pedaços de cerâmicas, algumas com detalhes e depois acabaram encontrando um pote, enterrado aproximadamente 1,5 m no chão.

De acordo com o indígena Sinhozinho Pataxó, coordenador do grupo de roça, eles só perceberam a importância do achado quando um índio escutou o barulho de algo se trincando e, ao se aproximar do objeto, veio a surpresa do grande pote enterrado. “Ao observar mais de perto, percebemos que dentro do pote havia ossos, continuamos o trabalho em outro local próximo e foram encontrados mais dois potes. Decidimos então informar as nossas lideranças sobre o achado!”, relatou.

Assustados, os indígenas entraram em contato com uma equipe do Cimi em Itabuna que, de imediato, aproveitando a presença da antropóloga Patrícia Navarro na região, convidou-a para ir ao local. Ao chegarem, constataram que se tratavam realmente de urnas funerárias, ainda contendo ossos. A comunidade isolou a área e parou o plantio no local. A equipe do Cimi tirou fotos e enviou a especialistas, que através das fotos, acreditaram ser aquela área um provável e antigo cemitério indígena.

Pesquisadores

No dia 1º de março, uma equipe de pesquisadores esteve na área em questão para analisar as urnas e os achados da comunidade. A equipe é coordenada pelo professor Carlos Etchevarne, que é argentino, mas mora desde 1985 em Salvador. Professor e pesquisador do Departamento de Antropologia da UFBA, Carlos é mestre em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP), Doutor em Pré-História pelo Museu de História Natural de Paris e PhD pelo Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, em Portugal. Desde 1998, vem estudando as pinturas rupestres na Bahia. Forma também a equipe a professora Maria do Rosário, que é Doutora em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo. Professora da Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas no Departamento de Antropologia e Etnologia. É Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFBA e atual presidente da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAí- BA). Desde o início da década de 1990 é Coordenadora do Programa de Pesquisas Sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro (PINEB).

No local, a equipe de pesquisadores foi recebida por uma grande quantidade de membros da comunidade, anciões, crianças e professores do colégio da aldeia que foram liberados para ir ao local e lideranças do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe.

O professor Etchevarne, confirmou a descoberta dos Pataxó Hã-Hã-Hãe. “Ficamos impressionados com os detalhes das cerâmicas, principalmente as conhecidas como ‘casco de tatu’ devido a sua semelhança como o casco do referido animal”, destacou Etchevarne.

Segundo o professor, o material precisará ser levado a Salvador para uma pesquisa mais detalhada, mas a princípio, pelos seus conhecimentos, trata-se mesmo de artefatos indígenas, não sendo possível ainda definir a que povo pertence e a data exata dos objetos encontrados. A pesquisa em Salvador, com uma técnica conhecida como “Carbono 14”, poderá dar estes elementos.

Perguntado sobre o significado desta descoberta para os Pataxó Hã-Hã-Hãe, Fábio Titiah, liderança jovem do povo destacou que a verdade se revelou. “Para nós índios Pataxó significa que o que os fazendeiros quiseram esconder da justiça veio a se revelar, após tomarmos posse de parte de nossa terra. É uma grande prova que essa terra é realmente nossa. Era aqui que os nossos ancestrais viviam felizes, e cuidavam de seus espíritos. Em outras regiões da nossa aldeia também foram encontrados esses cacos, o que nos faz compreender o quanto era grande a nossa aldeia, que grande parte de nosso povo foi exterminado e sua terra roubada. Acreditamos que, após a justiça conferir esses fatos, não há como julgar errada a ação de nossa terra que tramita no Supremo Tribunal Federal”.

Sem dúvida nenhuma, esta é uma grande vitória não só para o povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, mas para todos os povos indígenas desta região, que até nos dia hoje sofrem acusações difamatórias que afirmam que nunca existiu índio naquela região.

 fonte: Cimi Regional Leste - Equipe Itabuna

Fonte: Cimi Regional Leste - Equipe Itabuna